Depois daquele 1° de agosto de 2004
minha vida nunca mais foi à mesma. Era volta às aulas, as turmas estavam
eufóricas com a possibilidade de novos alunos irem para suas salas. Foi quando
eu a vi. Cabelos negros, olhos verdes (depois fiquei sabendo que eram lentes),
bracelete de couro e pontas em um dos pulsos, jeans rasgados nos joelhos e nas
barras, blusa extremamente branca e um arzinho de ser rebelde. Lembro de te
sentido algo como reconhecimento, interesse e medo.
Eu não vi um pingo de preocupação em
seu olhar enquanto as demais pessoas a fuzilavam com os olhos, acima de tudo
ela era linda, o que abalou as estruturas das consideradas gatas da escola.
Sentou-se ao fundo, abriu o caderno e todos se viraram para olhar a professora
que “apresentava” além da “metaleira rebelde”, mais outros cinco alunos todos
vindos da mesma cidade vizinha a nossa.
Os dias foram passando, a sala
enturmando os novos alunos, “minha panelinha” puxando papo com a tal garota e
eu até então sem lhe dizer nada mais do que “oi, bom dia”. Saia de perto porque
tudo nela soava como confusão, e isso era tudo do que eu menos precisava
naquele momento, pois minha situação escolar já ia de mal ao pior, obrigada.
Só que no meu doce plano de distância
eu não contava com algo. Certa manhã eu estava sentada confortavelmente em
minha cadeira rascunhado algo, quando ela parou a minha frente e perguntou se
poderia se sentar ao meu lado, acenei que sim com a cabeça e vi, pelo canto do
olho, que ela falava a verdade. Voltei de novo ao meu rascunho, e fui
interrompida logo em seguida com um singelo pedido:
- Me empresta uma caneta? A minha
deve ter caído no barco ou ficou com meu irmão.. Não consigo achá-la em nenhum lugar.
-Tudo bem. Azul ou preta?
-Preta, obrigada.
E lhe entreguei a caneta. Cinco
minutos depois e lá estava ela falando de novo.
- O que você escreve ai?
Acho que resmunguei algo baixinho e
respondi.
- É a letra de uma música.
- Hum legal! Qual é?
- Um velho rock inglês. Você não a
conhece.
- Talvez sim – E pegou meu caderno sem
avisar, e em seguida disse – Conheço sim, eles são bons. Não sabia que gostava
disso.
- Nem eu. Mas minha mãe ouve muito
eles.
- Pois sua mãe tem bom gosto.
E foi assim que eu conheci a
metaleira rebelde que ganhou espaço no meu coração. Formamos um trio inseparável
de amigas aquele ano, ela, a Rood e eu, que se seguiu até o fim do 2° ano. Eu
também me ferrei ao fim do quarto semestre, fui para prova final em seis
matérias, mas enquanto estava respondendo as provas escutava a voz dela e a da Rood
do outro lado da parede gritando:
- Vai Allyne! Põe todos no chinelo, a
gente acredita em você!
Eu sabia da sua fama e de todas as
suas rebeldias, perto das dela as minhas eram fichinha, mas uma das coisas que
eu mais admiro até hoje nela é o fato de nunca, em nenhum momento, cogitar a
idéia de mal influenciar-me. Com ela eu aprendi a me impor, aproveitar a vida,
rir de besteiras bobas, a ouvir rock (mas isso se acentuou com o André) e tomar
coragem suficiente para ficar com um garoto na frente de toda a escola, a
relaxar e esquecer-me de pessoas que não importam, entre outras tantas coisas
importantes e bobas.
A ultima vez que a vi, ela estava se
preparando para pegar o barco e segurando meu livro de inglês. Lembro que ela
me deu um abraço e disse “até logo logo, se cuide até lá”. Aquela cena ficou
gravada em minha mente para sempre. Depois disso eu nunca mais a vi
pessoalmente, por conta de tantos contratempos e desencontros. Falamos-nos
todos os dias pelas redes sociais, e pelo celular. Eu cresci e ela teve um
filho, mudou-se de cidade várias vezes, mas uma coisa que nunca saiu do meu
coração nem do dela e a forte ligação que nós temos. Podemos estar a milhas e
milhas de distância, conhecer um milhão de pessoas, mas em nenhum momento
apagar do coração nossa amizade, nunca, jamais. Porque “irmãs”, maiores e
melhores amigas são eternas.
*Texto dedicado a Bruna, minha “irmã
mais velha” e uma das minhas maiores e melhores amigas. E 100% baseada em vida real.
3 comentários:
Nine, amigos nem sempre estão ao redor. Mas com certeza estão sempre no coração.
Beeeeeeeeeeijo!
Linda história, Nine, encontro de almas que parecem velhas conhecidas.
Um beijo, lindeza.
Li e Lu - Como vcs duas, amo vcs demais! viu?!!! srsrsrss bjooooooo
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