A grande experiência da minha
vida, aos 25 anos de existência, é dizer que eu vivi com um velho sábio. Mas
isso não completa currículo, nem soma créditos ao meu Lattes, tampouco conta
como profissão. Somente endossa algo pessoal, ou seja, a bagagem de vida de
cada um. E talvez, para você isso pouco importa.
"Filhos, deem mais valor aos
seus pais. Pais, deem mais valor aos seus filhos." Não lembro quem disse
isso, mas faz sentido. É uma verdade importante, que só adquire significado
quando você se permite deixar aprender a amar. Filho não nasce sabendo amar pai
e mãe, pois ele constrói isso dia após dia, assim como os pais plantam a ideia de serem responsáveis por alguém.
Mas, esse velho não era meu pai,
tampouco meu irmão. Ele era alguém com quem eu compartilhava menos da metade
dos meus genes. Porém, foi alguém com quem eu mais briguei nessa vida e alguém
por quem eu mais senti respeito e admiração.
Ele me pegou no colo, mas não
tinha jeito com crianças, logo, esperou eu crescer mais um pouco. Quando o
momento chegou, ele me expulsou de sua oficina, com medo de que algo me
machucasse. Ele tentou me ensinar matemática,
regra de três, noves fora, mas nada se compara a paixão e curiosidade que ele
me despertou, que é contar estrelas. Engraçado pensar nisso e lembrar que meu
sonho infantil era ser astrofísica, sem nem saber dividir 50 centavos.
Eu cresci, e ele soube disso.
Tentou me dizer que a vida não se resume só ao aqui, que há outros mundos além
desse, mas eu estava com raiva demais ou ocupada demais para escutar, e sem
escutar eu fui descobrindo que dar valor, ao que importa, é a lição mais
valiosa de todo o mundo.
Ele me ensinou que ser
independente é necessário, que "aprender de tudo e usar o que for preciso"
é super importante. Me ensinou a ler as horas com o sol; me ensinou a teimosia
e a perfeição torta de um TOC compulsivo; me ensinou que não discutir sobre
assuntos desgastantes é impossível, e que o melhor caminho é enfrenta-los; ele
me ensinou a sonhar.
Seu currículo oculto me ensinou
detalhes feios, mas importantes. Me ensinou que jamais devemos
"forçar" uma pessoa a dependência de ninguém. Que moralidade e ética
nem sempre são princípios iguais; que amor é um sentimento surdo, egoísta e
quase imperceptível, mas que está aqui. E que "quem cala consente”, nem
sempre diz sim.
Mas o que eu aprendi é muito
raso, perto dos três tapinhas companheiros nos ombros que ele sempre me dava. E
talvez falte muito para admitir que "nem era pra tanto". Entretanto,
ele me fisgou por suas histórias, que sem demora desfilavam em muitas memórias
de outrora, das quais sem perceber ainda me roubam em uma tarde de quinta ou
numa visita até "algum lugar perdido".
Meu avô não era alguém direto.
Ele era cheio de rodeios. Sempre enrolando em uma história, mas hoje eu
descobri que ele fazia isso, principalmente, para lembrar que as pessoas fazem
falta e que a presa nos afasta de quem um dia fomos.
Então, eu fiz 25 anos e, a pessoa
que jamais achei que amasse tanto estava doente. E doente ela ficou até não mais aguentar. Mas
resistindo ela me ensinou o que é o amor de irmão, amor de filho por pai e vice-versa, o que é respeito pela morte
e o que é sentir realmente saudades de alguém.
"Humildade, minha filha.
Sempre lembre de ser humilde". Meu avô não foi a melhor pessoa do mundo,
nem a pior de todas, mas para mim ele foi especial. E único ele sempre será.
Ele não foi meu pai, nem meu irmão, ou meu melhor amigo. Ele foi um velho sábio, que por vezes o
julguei como meu inimigo, mas foi na nossa despedida em vida que eu percebi, como sou
feliz por ter ele em mim.".
Allyne Araújo.
23/04/2016.
P.s: Um agradecimento especial a minha eterna professora, Fabíola Andrade, ao qual me ensinou o valor de um idoso.
P.s: Um agradecimento especial a minha eterna professora, Fabíola Andrade, ao qual me ensinou o valor de um idoso.
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