quarta-feira, junho 04, 2014

“Sol nascente”





Há uma coisa engraçada na maneira como nasce o sol, pois ela nos dirá o quê é um dia perfeito. “Admire o céu repleto de estrelas. Elas lhe levarão até em casa”, e eu quase posso sentir meu avô ao lado recitando poemas esquecidos, e posso dizer que a solidão já não é uma dádiva. 

Todas as pessoas que cruzam nosso caminho com mil e uma queixas do dia-a-dia jamais entenderão o que se esconde na beleza do silêncio: a plenitude de um colchão de luz prateada a inundar aguas turbulentas e cheias de vida.

“Era uma noite fria e ao longe o trem passava, mas ela não podia ouvir a ferocidade da máquina sobre os trilhos, porque estava com os sentidos em John, sonhando com épocas não vividas e em memórias que não pertenceram a ela, enquanto viajava pela janela o sussurro do vento”. 

As pessoas sensatas diriam que sonhar é perda de tempo, alienação de consciência, mas eu não estarei aqui quando você acordar... Minhas roupas conservam em si o cheiro da noite, e meus ouvidos seguem imersos em melodias que nunca serão introduzidas em nenhuma canção. 
Por ruas silenciosas todos dormem, enquanto ratos vagueiam por becos enegrecidos. Olhos buscam pelo Cruzeiro do Sul, Orion e Escorpião, mas apenas um entre mil se encontra desperto para sentir algo mais do que o frio.  

De todas as melhores sensações do corpo, fazer parte da noite e do dia é a mais intrigante de todas elas. Um ser e estar inconstante, obscuro e irreal, com uma leve certeza de abandono incomum. 

Vagabundando pelos trilhos do trem, às três da manhã. Nada do que eu diga fará meus pais me perdoarem pela manhã, mas John canta ao longe, e orações cortam o céu em dois, as sombras de um passado esquecido e sangrento. Todos dormem, entretanto, poucos realmente sonham.

E nada é igual. Nada é normal. Nada é eterno. Tudo é uma constante nuvem a se transmutar. E nada é mais misterioso do que a maneira em que nasce o sol. E nada do que eu diga mudará a certeza de que tudo é incerto.

P.s: Há tempos eu venho sentindo vontade de ler algo novo que falasse sobre a noite. Como não achei nada que fosse realmente interessante, resolvi criar a minha própria abordagem, e para isso agradeço imensamente a Nataly, que foi uma das alavancas para este texto, e também cito a participação involuntária da Erica Ferro, por conta de algumas madrugadas divididas comigo em conversa jogada fora. Espero que vocês tenham achado legal.

Fontes das imagens: Então, amo como resposta!; Volcanoes melt me down!; Cidade-brasil.




2 comentários:

Érica Ferro disse...

Mágico!
Palavras cheias de sentimentos, devaneadas mas sábias, repletas do olhar de quem tem olhos de águia e voa sem sair do lugar.
Adorei esse post por inteiro!

Um abraço cheio de saudade.

:*

Wevertton disse...

Oie, lembra de mim e do meu blog?? POis é estava meio sumido... mas voltei com muitas novidades!!

Passe lá quando puder, curta, comente... em breve novidades com parcerias e sorteios exclusivos também....

É bom revê-la. Bj

blogdowevertton.blogspot.com.br